quinta-feira, 10 de maio de 2012

É BEM VERDADE! SERÁ QUE O PPC NÃO COMPREENDE?


'Por qué no te callas?'

por ANDRÉ MACEDO Hoje
Em Espanha costuma dizer-se que o príncipe Felipe tem a inteligência do pai e a simpatia da mãe. Não há espanhol que não apanhe logo a ironia. Aqui ao nosso lado, há esse bom hábito de falar para os espanhóis perceberem. Talvez o facto de terem Rei e não Presidente favoreça este ambiente em que os elogios ou os ataques não precisem de legenda para serem entendidos por todos, mesmo quando embrulhados na mais fina ironia para amortecer o embate.Até um tipo como Mariano Rajoy, que em Espanha é considerado um dos políticos menos excitantes de todos os tempos, seria capaz de arrebatar corações e as mentes da nação portuguesa. Ontem, no Porto, isso ficou claro. Não falou como falam as misses universo. Não falou como falam os políticos. Logo depois de Passos Coelho resumir a cimeira ibérica com leves referências ao contexto europeu, Rajoy atirou-se à cabeça do touro. Corte na despesa pública, sim. Redução da dívida pública, pois claro. Preocupação com o crescimento? É evidente que sim, hombre, por mil demónios! A introdução de satã na exclamação é da minha lavra, mas é sabido que Merkel tem fugido como diabo da cruz dessa palavra. Daí a importância do que ontem sublinhou Rajoy.
No fundo, não há uma só cabeça lúcida que possa contestar que a montanha de dívida pública e privada tapou as artérias da economia europeia, em especial da nossa. Reduzir este problema, emagrecer o Estado, limpar os bancos, redimensionar as empresas - tudo isso é essencial para reiniciar um ciclo de prosperidade mais equilibrado. Mas embora isto seja evidente, a verdade é que demasiados governos, a convite da rigidez alemã, decidiram enfiar goela abaixo o frasco inteiro de óleo de fígado de bacalhau. Tudo de penálti.
Como antes Sócrates e Zapatero só adivinhavam virtudes na dívida e no alargamento da cintura do Estado, Merkel e os seus discípulos decidiram que só o contrário é aceitável. Não é: calibrar o martelo da austeridade para não esmagar a economia era o que se pedia. Embora convenha aos governos dizer que só há dois caminhos - despesismo ou austeridade - e apesar de se compreender que não seja fácil encontrar a medida certa, a espiral recessiva em que nos encontramos já é em parte (a mais modesta) da responsabilidade dos zelotas orçamentais.
Chegou o momento de torcer o braço à chanceler alemã. Mais tempo para reduzir o défice, mais inflação na Alemanha (salários mais altos), juros ainda mais reduzidos e, a prazo, obrigações europeias em certas condições. Sem discutir estes novos termos do contrato europeu - falar é um incentivo - , vamos ter mais grécias por aí e menos Europa por aqui. Como um dia disse Juan Carlos, num parêntesis de lucidez, por qué no te callas, Angela? Apesar da brutalidade, talvez com esse recato e um pouco de flexibilidade, os extremos - cabeludos e rapados - percam a esperança de ver a Europa a arder. Não seria nem simpático nem inteligente. Seria uma real asneira

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