Snr. Ministro
Em primeiro lugar gostaria de lhe mostrar o apreço pela atitude que tomou relativamente à renúncia ao subsídio de alojamento que estava a receber. Mostrou ter algum respeito e ser solidário com a maior dos portugueses. Seria uma atitude de grande louvor não fora a expressão com que termina a sua frase de renúncia. Passo a citar:
"Por decisão pessoal minha, amanhã mesmo, vou formalizar a renúncia a este direito que a lei me dá". Com estas palavras, que grafei a vermelho, o senhor ministro desvalorizou completamente a sua atitude e insultou milhares de portugueses. É que enquanto o senhor ministro abdicou de "um direito que a lei lhe dá" a nós pura e simplesmente tiraram-nos quase todos os direitos que a lei nos dava. Como exemplo, vejamos o que vai acontecer aos aposentados da função pública: A lei garantia-nos uma pensão de aposentação, determinada em função dos anos de serviço e dos descontos feitos para a caixa geral de aposentações. Como todos os trabalhadores deste país, a mesma lei conferiu-nos o direito de receber os subsídios de natal e de férias. Não existiam quando eu comecei a trabalhar, mas o mesmo estado que lhe conferiu o direito ao subsídio de alojamento, deu-nos o direito de os receber. E agora, num repente, depois de um imposto solidário de meio subsídio de Natal, que este ano nos lançaram, vão não só tirar-nos os subsídios como congelar-nos as pensões durante dois anos. Até parece que fomos nós os causadores deste desastre e que nos puseram de castigo por issso tirando-nos dois direitos que a lei nos conferia: o de receber subsídios e o de actualização de pensões.
Quando se tem dinheiro e apoios suficientes para viver uma vida boa, é fácil renunciar aos direitos que a lei nos dá e presumir disso. Quando se chega à aposentação depois de uma vida laboral intensa e com os nossos descontos feitos para termos com que nos sustentar sem ser de esmolas, e perdemos a maior parte daquilo que a mesma lei nos garantia, é difícil não só compreender como aceitar.
Pena eu não ter agora a idade que tinha no 25 de Abril. Dedicava-me já à política. De lá saíram directa ou inderectamente alguns do mais privilegiados deste país, aqueles que se podem dar ao luxo de renunciar aos direitos que a lei lhes dá. E até ganharam pelo menos mais um: são intocáveis.
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